Por Amanda Salim
Passar horas do dia sem pensar em trabalho, relaxando e esquecendo da vida consertando carros antigos, simulando um vôo na cabine de um Boeing ou tocando guitarra. A vida nas empresas não é fácil e por isso mesmo alguns profissionais procuram algo bem diferente do seu trabalho para fazer nas horas de folga do batente. 'Ter um hobby é ótimo, mas não se pode esquecer que hobby é uma atividade realizada apenas por prazer, sem retorno financeiro e sem fim comercial', diz Ana Maria Rossi, presidente da ISMA Brasil (International Stress Management Association). O retorno acaba aparecendo também no desempenho profissional. |
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Seguindo esse caminho, Jeferson Fernandes, de 37 anos, responsável pela comunicação e marketing da multinacional Lanxess, consegue se desligar do ritmo alucinado de trabalho. Dono de dois jipes, um da marca Willys, ano 59, e outro da marca Ford, ano 75, seu hobby é reformar carro velho. 'Sempre gostei de carros e tenho uma paixão especial pelos antigos. Eu gosto de arrumar bagunça, consertar coisas quebradas, e acabei encontrando nessa distração uma oportunidade de relaxar', diz. Os consertos são feitos na casa dos pais de Jeferson, no interior de São Paulo. Depois de vários sábados na companhia do pai e com as mãos na graxa, o carro fica novo em folha. É hora de vendê-lo. O objetivo não é lucrar, mas sim se 'livrar' dele para iniciar outro projeto. 'A minha diversão acaba quando o carro fica pronto', conta. Depois disso, a idéia é achar outro carro velho para reformar, porque a satisfação está em transformar um automóvel velho em uma raridade.
Relaxando nas alturas
Todos os dias, depois de dez horas de trabalho, o sócio-diretor da CAS Tecnologia, Mauricio Catelli, de 40 anos, voa por uma hora. Nos finais de semana, arrisca viagens mais longas. 'Já cheguei a pilotar por treze horas, quando saí de Guarulhos e fui até São Francisco, nos Estados Unidos', conta. Sem sair de casa. Para viver essas aventuras, Catelli comprou, há pouco mais de um ano, um simulador de Boeing 737-700 e o instalou no seu apartamento em Perdizes, na zona oeste de São Paulo.
O cockpit de verdade custou 60 mil reais e ocupa o espaço de um quarto inteiro. A meteorologia é real, com a informação vinda da Internet. Se estiver chovendo lá fora, chove na simulação também. Existe ainda um sistema de tráfego aéreo que conecta controladores (profissionais ou não) aos pilotos por meio de um software. Não é preciso brevê pra 'brincar' nesse simulador, mas para subir de nível é necessário fazer cursos oferecidos pela empresa que vende o software. As regras são as mesmas: qualquer um pode ser suspenso e até expulso da brincadeira.
Nos finais de semana, o administrador de empresas faz vôos reais em Atibaia enquanto tira o brevê no Aeroclube de São Paulo. Segundo ele, a aviação virtual já ajudou com conhecimento técnico e prático. A paixão por aviões começou cedo por causa do irmão, que era piloto. 'Não segui a profissão porque não tinha mais tempo para começar os estudos e não queria ficar longe da minha família. Mas pretendo ter um avião pra passear, fazer viagens curtas no fim de semana, sempre como hobby ', conta.
Acalmando os feras
Já o economista Alexandre Corigliano, de 39 anos, diretor da Disoft, empresa soluções de crédito e leasing, de São Paulo, toca guitarra semanalmente na banda de blues e rock Brand New Classics. É uma forma de desestressar do momento difícil no trabalho. 'Estamos implantando uma gestão participativa na empresa, em que as decisões do grupo estão acima das do diretor. Isso estimula a equipe a participar, e, conseqüentemente, torna o meu dia-a-dia corrido', afirma.
Aos 14 anos, Alexandre começou a soar os primeiros acordes, mas foi diminuindo com o tempo por causa do trabalho, até parar aos 23. 'Um dia pensei: não posso parar com isso, eu sinto falta. É algo que me dá tanto prazer, não posso largar'. Depois de cinco anos, decidiu chamar os amigos que também tinham parado de tocar por causa do trabalho. Hoje, ensaiam uma vez por semana e se apresentam em casas noturnas.
Dois dos integrantes da banda são presidentes de empresa, têm filhos e, portanto, uma agenda lotada. 'O importante é ter um espaço na semana para ensaiar e conversar', diz Alexandre. Gerir uma banda cria desafios parecidos com os de um executivo na avaliação do guitarrista. 'É necessário lidar com pessoas que têm opiniões e necessidades diferentes, como numa empresa.'
Pratique um hobby. Os benefícios são enormes:
· Priorização: o executivo às vezes está frustrado, insatisfeito, mas consegue canalizar suas emoções de forma positiva através da prática de uma atividade, e, desse forma, se coloca em primeiro lugar.
· Socialização: ter contato com pessoas que têm interesses similares. Quem gosta de cozinhar, por exemplo, pode participar de uma confraria; quem se interessa por pintura, faz aulas e assim amplia sua rede de relacionamentos.