Por Deborah Trevizan   Roberto Picino, 31 anos, gerente comercial da Michael Page: capacidade de quebrar o gelo em horas difíceis trouxe reconhecimento na empresa.   Os executivos pertencem a uma classe profissional que costuma sofrer até mais do que o normal no trabalho.

Expedientes longos, sem fazer as refeições nas horas certas e muitas vezes trocando o lazer por encontros de negócios, tudo isso sob a pressão de prazos para cumprir, metas superestimadas, chefes de mau humor... Desse jeito, é difícil começar o dia com um sorriso nos lábios. Ainda mais se for uma segunda- feira! Mas, se você conseguir manter o astral, saiba que ganhará pontos para a carreira. Por isso,presidentes e executivos da área de RH têm falado bastante da importância do bom humor e considerado essa capacidade de rir, até nos piores momentos, como uma característica importante.

É fácil entender por quê. Pessoas bem-humoradas influenciam positivamente o clima e os resultados aparecem.Uma mostra disso é a rentabilidade das 150 melhores empresas para você trabalhar, do Guia VOCÊ S/A-EXAME. Ela é superior ao retorno das maiores companhias do país. Quem estuda o comportamento humano também reconhece que ultimamente o bom humor conta pontos nos processos de seleção.Um sorriso sincero na entrevista faz toda a diferença. 'Há um esforço das empresas para ter pessoas mais alegres, e ele começa já na contratação', diz Marcello Vasconcellos, diretor da consultoria Michael Page, de São Paulo.

Marcello, aliás, tem um bem-humorado na própria consultoria. Seu nome é Roberto Picino, paulistano de 31 anos, gerente da Michael Page.A capacidade de estar sempre bem e quebrar o gelo num momento complicado contou a seu favor quando a consultoria decidiu lhe dar novos desafios. Mas não espere encontrar no Roberto um humorista amador, daqueles que contam piadas na mesa de um bar.'Eu não sou o famoso contador de piadas, nem sei fazer isso. Acho até que nós, os bem-humorados, precisamos ter muita atenção com a linha tênue que separa o bom humor das atitudes inconvenientes', diz. Um dos exemplos de boas tiradas de Roberto mostra o seu limite.Numa sexta- feira, ao final de um dia estressante, ele chegou para a equipe e disse: 'Amanhã [sábado] será day off, ninguém precisa vir'. As pessoas pararam o que estavam fazendo e caíram na gargalhada. 'Falei aquilo só para descontrair', diz.

Mas se Roberto não fosse assim, daria para melhorar seu humor? A psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma no Brasil (International Stress Management Association), diz que sim. Ninguém nasce fadado a estar sempre de cara feia, a não ser que o mau humor seja proveniente de uma doença, como o distúrbio bipolar ou a distimia, a doença do mau humor. Uma pesquisa feita pela Isma com 230 colaboradores de três grandes empresas brasileiras concluiu que o humor é um componente importante no controle ou na relação com o estresse. Entre os entrevistados, 40% alegavam sofrer de mau humor crônico. Desses, 12% foram diagnosticados como portadores de distúrbios patológicos. O restante eram pessoas que estavam mal-humoradas porque tinham uma insatisfação geral com a vida e eram incapazes de enxergar alternativas de driblar situações ruins.

Nesses casos, a terapia pode ser uma solução. Uma forcinha da empresa também ajuda.'Permitir que um dia se trabalhe de bermuda ou com os animais de estimação causa um break no cansativo ambiente de trabalho e deixa todo mundo mais relaxado', diz João Carlos Dias, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. Mas que ninguém ache que essas ações são suficientes para manter a saúde se o executivo continuar trabalhando muitas horas, sob pressão absoluta. 'Não há bom humor que resista a cargas horárias estressantes', diz o médico.Para manter o sorriso no rosto, é preciso estar bem descansado.