Por Vicky Bloch*
Depois de anos de trabalho, você é o executivo ou a executiva que planejou ser e está no topo da hierarquia. Um dia, porém, você acabará deixando o cargo que batalhou para conseguir. Há quem parta para postos equivalentes, mas uma grande parcela não terá uma nova função de tanta visibilidade.
É raro encontrar duas empresas com a mesma importância dentro do mesmo mercado. |
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Isso não significa que fará um trabalho menor, mas, para algumas pessoas, ser um ex-VIP (very important person, ou pessoa muito importante) gera um sentimento de perda que dura muito mais tempo do que deveria. Sabe aquele sujeito que, mesmo depois de dez anos fora de uma empresa, ainda a coloca no topo do currículo? Ou aquele que sempre cita a companhia onde foi VIP, mesmo que já tenha passado por outras cinco depois? É o que vamos chamar aqui de Síndrome do Topo.
O principal sintoma dessa crise é querer viver do prestígio passado. O antídoto para não cair nesta armadilha: quando exercer o poder, construa uma história de realizações que não contribuam apenas com a sua imagem, mas também com a perpetuação da sua empresa e com o crescimento das pessoas que o cercam. Ser um ex-poderoso só é demérito para quem nunca teve resultados para mostrar. Os que fizeram algo significativo para os funcionários, consumidores, acionistas e afins serão sempre lembrados.
Um bom exemplo é Al Gore, ex-vice-presidente e quase presidente dos Estados Unidos. Depois da frustração de perder as eleições para Bush, ele retomou um projeto antigo: palestras sobre os riscos do aquecimento global. Acabou convidado para 'estrelar' o documentário Uma Verdade Inconveniente, sucesso de público e crítica. Gore passou a ser visto não apenas como presidenciável, mas como alguém que realmente contribuiu para uma causa mundial. Mesmo fora do poder, ele mostrou o que deve fazer um homem público. Construir uma carreira de sucesso é exatamente isso: ser reconhecido também pelo que você fez à sociedade.
Muitas vezes, executivos não fazem essa reflexão porque se deixam levar pelo glamour de postos concorridos ou pela pressão do dia-a-dia. Acreditam que aquela função é o significado maior de suas vidas. E só farão um balanço de suas carreiras quando voltarem à vida real. Para evoluir de maneira menos dolorosa, invista nesta auto-análise o quanto antes. A visibilidade deixa de ser um objetivo para quem encontra a sua causa pessoal, mas pode chegar como conseqüência dessa mesma causa.
No lado oposto, é fácil reconhecer aqueles que querem viver apenas do passado. Muitos deles fizeram fama como 'Rainha da Inglaterra' em suas empresas, exercendo postos de liderança sem participação efetiva nos resultados. Hoje, eles se esquivam de responder quais são suas atividades e chegam a produzir um personagem na tentativa de manter as aparências. Imprimem cartões com um alto cargo, montam um escritório para impressionar, almoçam em restaurantes caros para ser vistos, mas não conseguem dizer o que fazem.
As pessoas mais vulneráveis a esta 'doença' são aquelas que não construíram um projeto de valor ou uma missão clara de vida - da qual o trabalho deve ser uma parte e nunca o contrário. Quem usa a carreira para ir além do brilho próprio tem mais condições de transitar para um novo estágio de sucesso.
Vicky Bloch é psicóloga e consultora de carreiras da Vicky Bloch & Associados