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Escreva sua biografia
por Você SA
Publicada em 24/9/2007

 

Por Maurício Oliveira

 

Descobrir sua marca pessoal e saber vendê-la no currículo ou numa entrevista de emprego depende, antes de tudo, de uma boa dose de autoconhecimento. E um ótimo exercício para fazer essa análise é escrever sua própria biografia. Quem recomenda é o consultor Luiz Carlos de Queirós Cabrera, que já assinou um artigo sobre o tema aqui na VOCÊ S/A (Palavra de Mentor, setembro de 2005).

  

'Você passa a acreditar mais em si mesmo. Constata a evolução de suas competências, de seu conhecimento e, principalmente, as mudanças que enfrentou e venceu ao longo da vida', afirma o consultor, o 'C' da consultoria PMC Amrop International, em São Paulo. Opa, mas escrever uma autobiografia não é privilégio de quem já está no fim da vida e tem muita, mas muita história para contar? Nada disso. Idade não tem nada a ver com a tarefa que Luiz Carlos Cabrera propõe aos seus alunos (a maior parte na faixa dos 30 anos) no mestrado profissional em administração de empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo. Para o gerente de planejamento comercial do Itaú, o paulista Eduardo Civitati, de 33 anos, a visita ao passado foi uma excelente oportunidade para refletir sobre as perspectivas de carreira. Uma das revelações foi que ele precisa, sim, de estabilidade. 'Minha família enfrentou sérios problemas financeiros quando eu era criança e percebi que, provavelmente em função disso, eu tenho dificuldade de lidar com a falta de um salário certo no fim do mês', afirma. Isso ficou claro quando Eduardo descreveu na autobiografia sua experiência como empreendedor. Há cinco anos, o executivo deixou o Itaú para abrir um negócio próprio, em Belo Horizonte, na área de propaganda. 'A empresa até decolou. Mas a insegurança do dia-a-dia me incomodava bastante.' Em abril de 2001, menos de dois anos depois de ter pedido demissão, Eduardo estava de volta ao Itaú. Passou a trabalhar na mesma área em que atuava antes. Mas com uma postura bem diferente. 'Eu me sentia cansado da minha própria instabilidade e intolerância. Tinha consciência das minhas potencialidades, mas, ao mesmo tempo, faltava foco, equilíbrio.' Graças ao exercício da biografia, ele percebeu que precisava canalizar as energias mais para a realização do que para a crítica. E constatou que muitas das coisas que antes achava insuportáveis eram absolutamente normais não só no mercado de trabalho, mas nas relações humanas de uma maneira geral. 'A biografia ajudou a deixar tudo isso mais claro para mim.'

 

 

Divida sua vida em ciclos

O consultor Jair Moggi, da Adigo, de São Paulo, autor do livro Assuma a Direção de Sua Carreira (Editora Negócio) em parceria com Daniel Burkhard, recorre à sabedoria dos antigos gregos para propor a divisão da biografia em setênios períodos de sete anos. 'Cada um desses períodos tem suas peculiaridades e é regido por determinadas forças. É importante entender como essas forças influenciam a vida profissional', explica. Jair destaca que o setênio entre 29 e 35 anos é fundamental para a carreira porque, entre outros motivos, é o de maior estabilidade emocional. 'Antes disso falta experiência e depois vem a crise dos 40 anos, prenúncio de grandes mudanças.'

A paulista Maria Cristina Vichi, de 31 anos, gerente de compras para indiretos da 3M, concorda que está vivendo o período de maior estabilidade na carreira. 'Estou mais convicta do que quero', diz a executiva, que também escreveu a autobiografia como exercício profissional. Ao abordar os momentos mais difíceis no trabalho, ela se lembrou de um pedido de demissão há quase três anos, que só não foi efetivado por intervenção do departamento de recursos humanos da 3M. Ela estava descontente com a função que exercia, mas a diretoria de RH pediu que esperasse mais três meses para ter a possibilidade de juntar-se ao time Six Sigma. Deu certo. E depois de dois anos nesse setor, ela foi convidada a assumir o cargo atual. 'Estou satisfeita e cheia de perspectivas. O episódio me mostrou que a impaciência e a impulsividade podem ser muito prejudiciais para a carreira.'

 

O consultor independente Verner Dittmer, ex-diretor de telecomunicações da Siemens no Brasil, aconselha todos os profissionais, de qualquer área e idade, a fazer vários registros ao longo da vida. 'Pode ser uma vez por semana ou uma vez por mês, mas é importante cumprir a tarefa com regularidade', recomenda. Há dois anos, com 67 de idade, ele recebeu o convite da Editora da Universidade Estácio de Sá para lançar a autobiografia em uma coleção chamada Depoimento da Vida Profissional. Assim, deparou-se com o desafio de resgatar detalhes das quatro décadas em que trabalhou na multinacional e dos 21 anos em que esteve no comando da divisão de telecomunicações. 'Enfrentei fases críticas, como lutar três vezes contra a ameaça de fechamento da unidade. Se tivesse escrito isso na época em que as coisas aconteceram, o relato hoje certamente seria mais rico.'

 

 

Revisite sua história

Luiz Carlos Cabrera sugere que você guarde o texto em uma pasta do computador e leia-o sempre que estiver diante de um desafio. 'Isso vai provar que você é mais forte do que acredita, mais persistente do que imagina e muito melhor do que os outros pensam.' O consultor diz que é importante incluir no exercício aspectos da vida pessoal, como a infância e a história dos pais. Eduardo e Maria Cristina citaram episódios íntimos: a morte da mãe, no caso dele, e os conflitos com o pai em função da escolha da carreira, no caso dela ('Ele queria que eu fosse médica e eu nunca tive vocação para isso. Da infância, só lembro que queria ser a moça do pedágio, que devia ser muito rica com todo o dinheiro que recebia dos carros!').

 

É preciso tomar cuidado, no entanto, para não confundir as coisas. A headhunter Fátima Zorzato, diretora da Russell Reynolds no Brasil e psicóloga por formação, diz que, se você exagera na associação entre passagens da vida pessoal e momentos da vida profissional, corre o risco de fazer interpretações equivocadas. 'Transferir a responsabilidade para o passado é uma saída cômoda', diz. 'Além do mais, a análise de problemas antigos exige uma abordagem mais profunda, de preferência com a participação de um profissional.' Para Jair Moggi, o importante, ao olhar para trás, é não se lamentar. 'É preciso perceber a luz que vem do passado, e não a sombra. Só assim esse exercício pode, de fato, ajudá-lo a definir o futuro.'

 

 

Mãos à obra

Aprenda a escrever sua biografia com o consultor Luiz Carlos de Queirós Cabrera, da PMC Amrop International.

 

1. Converse em separado com o seu pai e com a sua mãe sobre a vida de cada um deles, passando por temas como a infância, as circunstâncias em que se conheceram e o nascimento dos filhos.

 

2. Resgate lembranças remotas, como os primeiros amigos e paixões, as vitórias no esporte, as brigas na rua. Tente se lembrar dos desapontamentos e de como os superou.

 

3. Pense sobre a escolha do curso universitário. A quem recorreu em busca de conselhos? Como foi o vestibular? A sua família tinha dinheiro para bancá-lo ou você teve de trabalhar enquanto estudava?

 

4. Lembre como era a turma na universidade, como se relacionava com os colegas e como entrou no mercado. Quais as lembranças do primeiro chefe? E do primeiro ambiente de trabalho?

 

5. Avalie como evoluiu a carreira depois da formatura. Que desafios você enfrentou e venceu? E os percalços? Do que se arrepende? Quais suas grandes conquistas? 

 

 

Eduardo Civitati

'Não basta ser um profissional de valor: descubra onde precisam do seu valor'

 

Nascimento: 13/9/1972, em São Paulo (SP). Tem um irmão mais velho. O pai é comerciante no Guarujá (SP). Perdeu a mãe há oito anos, vítima de câncer.

 

Educação: Cursou engenharia de produção na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e fez mestrado em administração na Fundação Getulio Vargas (FGV).

 

Sonho de infância: Ver o Palmeiras campeão. O jejum de títulos do clube paulista durou 16 anos e só chegou ao fim no ano de 1993, quando Eduardo tinha 20 anos.

 

Futuro: Não tem planos específicos. Está mais preocupado em viver bem o presente. 'O futuro será uma conseqüência natural.'

 

Como relaxa: Corre de três a quatro vezes por semana. Joga videogame, em particular as simulações de partidas de futebol.

 

Motivo de orgulho: Ter deixado uma boa imagem por todos os locais por onde passou.

 

 

Maria Cristina Vichi

'Sou teimosa e persistente. Teimosa e persistente, entendeu?'

 

Nascimento: 12/1/1975, em Ribeirão Preto (SP), terceira de quatro meninas. O pai é cardiologista. A mãe, pianista e professora de línguas, interrompeu as atividades profissionais para cuidar das filhas.

 

Educação: Cursou administração de empresas na USP e fez mestrado em administração na FGV.

 

Sonho de infância: Ser a moça do pedágio, 'porque todo mundo dava dinheiro a ela'.

 

Futuro: Cargo de diretoria em uma empresa importante. Mais tarde, montar um negócio ou prestar consultoria a pequenas empresas.

 

Como relaxa: Viaja no fim de semana. Passou o carnaval em Itacaré (BA) com o namorado. Vai sempre a Ribeirão Preto ver a família. Adora jogar conversa fora com os amigos.

 

Motivo de orgulho: A experiência em Six Sigma. 'Quebrei a resistência das pessoas a mudanças.'

 


Artigo fornecido pela revista VOCÊ S/A.
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