Por Cassio Herinque Utiyama
Preciso chamar meu chefe de 'senhor'? Posso falar gíria durante uma reunião? E palavrão? Quando o assunto é causar uma boa impressão na empresa, essas questões são mais do que detalhes. Afinal, mesmo que a informalidade faça parte de sua personalidade, tudo o que você faz pode influenciar positiva ou negativamente o ambiente de trabalho. Se você for o chefe, então, essa influência é ainda mais presente. 'Os executivos têm de aprender a conviver com o ônus de liderar pelo exemplo', afirma a consultora Célia Leão, colunista da VOCÊ S/A. |
|
Em outras palavras, como exigir que sua equipe fale de maneira adequada diante de um cliente importante se você só se expressa usando palavrões? E não adianta vir com aquela velha frase: 'Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço'. Além disso, existe um outro problema para quem adota o estilo informalidade máxima. 'Quem oferece muita liberdade tem dificuldade para recuperar a autoridade depois', afirma Lígia Marques, socióloga e consultora de etiqueta, de São Paulo. Veja agora como não deixar a informalidade passar dos limites:
Cuidado com a falta de profissionalismo. Se dentro da empresa usar um linguajar muito informal é problema, fora dela não é diferente. A informalidade se torna uma ameaça quando começa a prejudicar a relação profissional com clientes, fornecedores e parceiros do seu negócio. 'Informalidade não pode servir, por exemplo, como justificativa para você atrasar uma entrega ou mesmo um pagamento', afirma Célia.
Deixe claro seu limite. Quem afrouxa as regras pode pagar um preço alto demais. Isso não significa que você precisa ser antipático. O que pode e deve fazer é criar uma distância psicológica saudável. 'Costumo brincar bastante na empresa, mas todos conhecem os limites e sabem que os clientes não podem ser tratados da mesma maneira', afirma Célia.
Nem sempre é senhor, sim senhor. Chame clientes, fornecedores e superiores de 'senhor'. A menos que eles autorizem um tratamento menos formal.
O cliente sempre tem razão? Não há necessidade de ser formal com os clientes o tempo inteiro, mas fique atento se o contato resvalar em assuntos pessoais, por exemplo. Se isso acontecer, seja monossilábico e pergunte em que pode ajudar. A idéia é colocar um ponto final no assunto de maneira bem educada.
Fale bonito, mas não seja pedante. Quando você usa gírias e palavras de baixo calão, constrange as pessoas que estão ao seu lado. Tome cuidado também com o português errado. 'Virou moda usar expressões no gerúndio como 'estaremos enviando uma cópia do contrato amanhã', o que é errado', diz Lígia. Por outro lado, erudição demais também incomoda. 'Quem adora falar palavras difíceis e se acha um dicionário ambulante acaba deixando os outros pouco à vontade.'
Primeiro, diga quem você é. Ao telefone, comece dizendo seu nome e onde você trabalha. Se você fez a ligação, pergunte se a pessoa está ocupada. Se ela estiver no celular, seja breve.
Correio eletrônico é coisa séria. Quanto tempo você perde apagando e enviando mensagens de piadas, spams, correntes etc.? Pense bem: nada disso é relevante para o trabalho, ou mesmo para o dos seus colegas. Portanto, mesmo que ache uma piada engraçada, evite repassá-la. Se não resistir, use seu e-mail pessoal e só envie para quem gosta de ler esse tipo de mensagem. Se você descobrir que alguém de sua equipe usa o correio eletrônico da empresa para esses fins, chame-o para uma conversa. Lembre-se de que a imagem da empresa está atrelada às mensagens que circulam via e-mail.
Personalize seu e-mail sem exagero. Se você vai mandar uma mensagem para alguém fora de sua empresa, esse documento precisa ter uma apresentação impecável. 'A internet não dispensa as regras formais de uma carta', afirma Lígia Marques. Além da marca-d'água, nunca é demais colocar uma assinatura que tenha telefone e e-mail do destinatário. No entanto, a consultora Célia Leão chama atenção para os exageros. 'Dispense o fundo e as letras coloridos, que dificultam a leitura', afirma. Também não abrevie, você corre o risco de não ser entendido.
Depende do lugar
Para o paulistano Eduardo Pellegrina, de 49 anos, gerente sênior de recursos humanos da Motorola, esse é o segredo para quebrar a formalidade, de maneira saudável, dentro de uma multinacional que possui filiais espalhadas por todo mundo. Em alguns países da América Latina, por exemplo, Pellegrina ganha um 'senhor' na frente do nome. Nos Estados Unidos é chamado pelo sobrenome. 'Mas, aqui no Brasil, é 'Edu'', diz. Na filial brasileira da Motorola respeita-se o jeito mais informal do país. Na fábrica que fica em Jaguariúna, interior de São Paulo, não existe nenhum código de conduta escrito. Algumas áreas da empresa já adotaram o guarda-roupa casual durante a semana, e não apenas na sexta-feira. Ninguém trata o chefe como senhor e é permitido escrever e-mails internos com abreviações, algo que os manuais de etiqueta não recomendam. Nada disso gera problemas de convivência. Ao contrário, até melhora o ambiente. 'Mas é preciso respeitar as diferenças culturais se você está em outro país ou visitando um cliente', afirma Pellegrina. Para evitar embaraços, ele sugere a seus funcionários que avaliem o comportamento do país ou empresa que irão visitar. É um sinal de respeito.