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Escassez de líderes
por Você SA
Publicada em 11/6/2007

Por Renato Mendes

 

O mundo dos negócios está prestes a viver uma escassez de líderes sem precedentes. A avaliação, um tanto quanto sombria, é do norte-americano Marc Effron, responsável pela área de liderança da consultoria de recursos humanos Hewitt Associates. Segundo Effron, por trás desse fenômeno está um processo natural que não pode ser detido: o envelhecimento da população. 

  

Até 2015, a aposentadoria deve tirar de circulação cerca de 15% dos executivos norte-americanos que hoje têm entre 35 e 44 anos -- período que ele chama de 'idade da liderança'. Em maior ou menor escala, essa tendência deve se confirmar também em outros países. Para as empresas, a principal conseqüência disso será o acirramento da disputa pelos melhores líderes disponíveis do mercado. 'Num futuro próximo, contratá-los será mais arriscado e difícil. A saída, então, será formar novas lideranças', diz Effron.

 

Mas como se forma um líder? Foi atrás dessa resposta que Effron e Robert Gandossy, outro consultor da Hewitt, resolveram pesquisar as práticas de mais de 600 empresas ao redor do mundo, no maior estudo já realizado sobre o tema. O resultado está no livro Leading the Way (editora Wiley), recém-lançado nos Estados Unidos e sem data prevista para chegar ao Brasil. Nele, Effron e Gandossy mapearam o que as grandes corporações fazem de melhor quando o assunto é liderança. Chegaram ao que chamam de as 'três verdades absolutas' sobre o assunto. VOCÊ S/A entrevistou Effron, em seu escritório em Connecticut, nos Estados Unidos. Nas próximas páginas, você lê uma adaptação para 'pessoas físicas' dos conceitos descritos em seu livro. Vale lembrar que, mesmo não sendo um CEO, você pode - e deve - exercer um papel de liderança junto às pessoas com quem trabalha. Não é fácil, porque líderes não costumam ser feitos da noite para o dia. Mas chegará antes quem começar a se preparar primeiro.

 

 

Verdade no 1

 

Saiba que tipo de líder você deve ser

 

Segundo Effron, as empresas deveriam olhar para seu negócio e se perguntar: de que tipo de líder eu preciso? Alguns líderes podem ser extremamente criativos e inovadores, mas não tão bons quando cobrados exclusivamente em termos de resultados. Outros podem ser ótimos em fases de mudança, mas não tão eficientes em tempos de calmaria. Não existe uma pessoa boa em todos os aspectos e situações. Isso é um fato. Imagine, por exemplo, o que aconteceria se colocássemos Jeff Bezos, CEO do Amazon.com, para comandar a Microsoft? Provavelmente não daria tão certo porque são companhias com perfis e necessidades totalmente diferentes. Sua missão é descobrir que tipo de líder a empresa em que trabalha está procurando. Faça as seguintes perguntas: eu conheço a estratégia do negócio? Que capacidade devo ter para desempenhar um papel de liderança nessa organização? Às vezes, você não está sendo bem aproveitado porque seu perfil não tem nada a ver com o da companhia em que trabalha.

 

 

Verdade no 2

 

Foco no talento

 

Infelizmente, nem todas as pessoas que o cercam têm potencial para se tornar grandes líderes. Nesse ponto, Effron é direto: 'Identifique cuidadosamente aqueles com potencial e trabalhe duramente para desenvolvê-los', diz. O processo de identificação não precisa necessariamente ser formal. Quanto mais você se aproximar e interagir com a equipe, mais fácil será identificar quem são os mais capacitados. Ok, você já percebeu quem são seus funcionários mais talentosos, mas eles sabem disso? A resposta é: eles deveriam saber. Se eles ainda não ouviram isso de você, certamente escutarão de outras pessoas ao longo da sua carreira. Que tal procurar essas pessoas amanhã de manhã e dizer para elas o quanto são importantes? Ajudá-las em seu desenvolvimento também é uma forma de ser um bom líder. Portanto, trace os planos de carreira de seus liderados e exponha-os a uma série de desafios. Passe as tarefas mais difíceis para aqueles que considera mais capacitados e observe como reagem. É o melhor que você pode fazer por eles. A grande maioria dos grandes líderes passou por situações assim. Em um momento de honestidade raramente visto entre executivos desse nível, Douglas Busch, CIO da Intel, confessou: 'Quando me convidaram para o cargo, achava que tinha capacidade para ocupá-lo, mas, francamente, pensei que eles eram loucos por me darem uma chance daquela!'.

 

 

Verdade no 3

 

Envolva-se com seus liderados

 

O recado aqui não poderia ser mais claro. Saber interagir com a equipe é fundamental para quem deseja ser um bom líder. Para isso, é preciso dedicar parte do seu tempo a essa missão. E nem adianta dizer que a agenda anda apertada. Com certeza, a vida de Reuben Mark, CEO da Colgate-Palmolive, é bastante corrida. Mesmo assim, ele encontra tempo para, uma vez por mês, dedicar metade de seu dia a um grupo de líderes em potencial de sua empresa. Mas não adianta nada ter esse tipo de atitude se você não é um chefe acessível. O mesmo Reuben Mark, da Colgate-Palmolive, é visto com freqüência almoçando com seus funcionários. Os colaboradores sabem que podem abordá-lo a qualquer instante - que sempre serão bem recebidos. É a política de portas abertas levada a sério.

 

Por fim, seja um modelo do que você espera dos outros. Mais importante do que falar é fazer. A sede da rede de supermercados Wal-Mart fica no Estado de Arkansas, nos EUA, mas dificilmente você encontrará os líderes lá numa manhã de segunda-feira. Toda semana, eles costumam viajar pelo país visitando lojas para conversar com gerentes locais e ouvir clientes. O objetivo: aperfeiçoar a estratégia da empresa. E é exatamente isso que eles esperam de seus funcionários: idéias de como melhorar o negócio. Em outras palavras, não diga aos outros como eles devem agir, faça com que seus atos sirvam de exemplo.

 

O fator humano

 

Uma pesquisa da consultoria alemã Roland Berger, especializada em seleção e recrutamento de executivos, mostra que os líderes brasileiros incluíram a gestão de pessoas em sua lista de competências. Administrar bem as pessoas de maneira geral e as de cultura diferente, em particular, tem mais importância hoje do que há dez anos.

 

'A abertura do mercado brasileiro na década de 90 fez grande parte dos executivos se especializar em problemas econômicos', diz Kelen Freitas dos Reis, diretora da consultoria. Segundo ela, agora, os líderes passaram a ter visão estratégica de toda a empresa, o que significa colocar a equipe entre as prioridades.

 

Cerca de 5.000 supervisores, gerentes, diretores e presidentes de empresa brasileiros foram avaliados nos últimos dez anos. Os profissionais trabalhavam em organizações de setores como alimentos, construção, energia, telefonia, têxtil e siderurgia. Eles foram ouvidos enquanto suas companhias passavam por processos de fusão e aquisição, mudança de estratégia, reorganização ou perda de mercado.

 

O estudo mostrou que, nos anos 90, os líderes tinham foco nos resultados, mas já começavam a perceber que é necessário tratar a carreira com espírito empreendedor, que a comunicação com a equipe é determinante e que é preciso ter visão de mercado. Nos últimos anos, porém, eles passaram a prestar atenção a outros aspectos. Perceberam que, além de administrar bem as pessoas, é fundamental construir e manter uma rede de relacionamentos, estar sempre abertos a mudanças, ser capazes de aprender e ter orientação para o cliente.

 

Passado e presente

 

Numa mesma empresa, a Fiat Brasil, dois líderes com estratégias bem diferentes. Enquanto esteve na liderança da empresa de 1999 a 2002, o italiano Gianni Coda focou na rede de concessionários, na ampliação da linha de produtos e nas vendas.

 

Já o atual superintendente, Cledorvino Belini (o primeiro brasileiro a ocupar o cargo), colocou as pessoas na pauta do dia. Belini, que assumiu a empresa este ano, toma café-da-manhã com os funcionários uma vez por mês e criou um link na intranet para quem quiser fazer perguntas ou dar opiniões. É a hora e a vez dos funcionários.

 

Anne Dias

 


Artigo fornecido pela revista VOCÊ S/A.
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