Por Maurício Oliveira Imagine-se no Natal de 2010, escrevendo a um amigo sobre tudo o que lhe aconteceu nos cinco anos anteriores. Deixe a imaginação fluir e coloque no papel as suas maiores aspirações profissionais e pessoais. Mas procure construir uma história verossímil. Nada de descrever uma seqüência de conquistas que não cabem em cinco anos ou que parecem impossíveis de realizar. Esse exercício, sugerido pela consultora Vicky Bloch, presidente para a América

Latina da consultoria de carreira DBM, vai ajudá-lo a selecionar prioridades e servirá como ponto de partida para o planejamento da carreira. Vicky costuma dizer que, se você não tem um projeto profissional, provavelmente está no projeto de alguém. E isso, é claro, não é nada bom. Para traçar o seu próprio caminho, ela indica uma auto-análise profunda sobre as seguintes questões: ao fim de sua carreira, como você gostaria de ser lembrado pelas pessoas que trabalharam ao seu lado ou que estiveram de alguma forma ligadas ao seu trabalho? E, mais do que isso, com que frase você gostaria de resumir a sua trajetória profissional? As respostas dependem de muita reflexão. Além de levar em conta o que você gosta de fazer e o que valoriza na vida, é preciso maturidade para reconhecer seus pontos fortes e, sobretudo, os fracos. 'Não adianta sonhar com algo para o qual você não está nem jamais estará preparado', adverte Vicky. A paulista Susana Martins, de 33 anos, gerente de operação da Avaya, vem fazendo direitinho a lição de casa. Ela trabalha há sete anos na multinacional do ramo de telecomunicações, com sede em São Paulo, e conta com orgulho que cumpriu todas as metas do seu plano de carreira nos últimos cinco anos. Entre elas estava um curso de MBA (concluído em 2003 na Business School São Paulo), uma casa de campo (ela comprou o terreno em 2000 e terminou a construção dois anos depois) e uma viagem para percorrer o Caminho de Santiago de Compostela (realizada em junho deste ano). Para os próximos cinco anos, os planos profissionais incluem um cargo de diretoria - para o qual ela já vem sendo preparada pela empresa - e, paralelamente, o início de uma nova atividade profissional, como consultora. Susana está numa idade em que é preciso muita atenção ao avaliar as possibilidades pessoais e profissionais que há pela frente. 'Dos 30 aos 45 anos, período crítico do desenvolvimento da carreira, vários caminhos parecem atraentes e as escolhas precisam ser especialmente cuidadosas', afirma Rosa Bernhoeft, sócia da consultoria de carreira Alba & Bernhoeft Associados, em São Paulo. Segundo ela, antes dos 30 é normal experimentar de tudo e depois dos 45 o profissional espera ter liberdade para tomar decisões mais arrojadas na carreira.

Mudança de rota

Mesmo quando parece perfeito, o planejamento profissional precisa ser revisado regularmente. No meio do caminho, podem surgir conflitos e novos interesses. E é preciso estar devidamente preparado para redirecionar a carreira quando isso acontece. Que o diga a paulista Léia Moreli, de 42 anos, diretora de recursos humanos da Prosegur, multinacional espanhola da área de segurança, que emprega 15 000 pessoas no Brasil. Há três anos, Léia se viu em uma encruzilhada: era diretora de recursos humanos da Clorox, multinacional de higiene e limpeza, e recebeu uma proposta da organização para ir trabalhar na Argentina. Isso significava a oportunidade de, finalmente, colocar em prática a tão desejada e planejada carreira internacional. Ao mesmo tempo, o processo de adoção de um bebê estava nos trâmites finais. 'Além de toda a complexidade de mudar para outro país com uma criança recém-nascida, eu e meu marido tínhamos receio de que o juiz não interpretasse bem a decisão de sairmos do país naquele momento', lembra a executiva.

A vontade de ser mãe falou mais alto. Léia abriu mão da posição na Argentina e deixou a Clorox - já que não havia possibilidade de continuar trabalhando na empresa se optasse por permanecer no Brasil. Pouco depois foi procurada por um headhunter que representava a Prosegur. Hoje, sente-se realizada como mãe de Marina, de 3 anos, e motivada com a atuação na empresa de segurança. Mas não desistiu da vivência internacional. Apenas adiou a experiência, ajustando o plano de carreira à sua nova realidade familiar. 'Estou em uma organização que pode me dar essa oportunidade e estou preparada', afirma Léia, que, desde que ingressou na Prosegur, passou a estudar com afinco o espanhol, idioma da matriz.

Para que o seu plano de carreira também leve ao final feliz, vale seguir o conselho do consultor Maurício de Paula, autor do livro O Sucesso É Inevitável, recém-lançado pela Editora Futura. Maurício compara o planejamento a uma viagem. 'É preciso saber onde se quer chegar, estudar com cuidado o melhor itinerário, verificar o que já carregamos na bagagem e o que será necessário conseguir pelo caminho. E estar sempre preparado para uma queda de barreira ou um pneu furado', recomenda o consultor. Para compreender o presente e vislumbrar o futuro da área em que você atua ou pretende trabalhar, ele sugere conversas freqüentes com profissionais que tenham bastante experiência e uma visão ampla desse mercado. 'O processo de planejamento até pode começar de maneira introspectiva, mas depois é essencial que se volte para fora.'

Plano de carreira em 10 lições

Flexibilidade é essencial na hora de traçar os próximos passos profissionais. Veja como garantir o sucesso do seu planejamento:

1. Faça duas perguntas essenciais

- Quais os meus talentos?

- O que me dá prazer?

Quanto mais você aproximar uma coisa da outra, maiores as chances de realização.

2. Siga a sua vontade e não a dos outros

Pense no que você gostaria realmente de ser, e não no que os outros gostariam que você fosse. Planeje um futuro que combine com as suas aspirações e talentos.

3. Seja realista

Não liste um número exagerado de objetivos, impossíveis de serem realizados no tempo estipulado.

4. Estabeleça prioridades

Em vez de planejar o aprendizado de dois idiomas nos próximos cinco anos e fracassar em ambos (afinal, a sua vida não se limitará a estudar línguas!), concentre-se naquele que é mais importante para os seus objetivos.

5. Aposte na autocrítica

Só quem conhece bem as próprias necessidades de aprendizado e desenvolvimento consegue ir direto ao ponto para se aprimorar.

6. Lembre-se que o futuro começa agora

O planejamento não pode ser dissociado de sua situação atual. Informe-se sobre os planos da empresa em que você trabalha e analise os rumos da sua área de atuação.

7. Seja flexível

Esteja sempre pronto para reavaliar seus planos a partir de um acontecimento significativo que não estava no script.

8. Amplie suas perspectivas

Já que estamos falando do futuro, não esqueça que há muitas formas de trabalho além da vida corporativa. Você pode ser consultor, professor, empreendedor, e por aí vai.

9. Jogue conversa fora

Compartilhe seus planos pessoais com o marido ou a esposa, um parente ou um amigo. Troque idéias sobre o futuro da carreira com pessoas que conheçam a sua área de atuação e tenham mais experiência. Cultive e amplie sua rede de relacionamentos.

10. Revisite seus planos anualmente

Faça uma revisão anual e transfira o que for preciso para a sua agenda. Um exemplo: se uma das decisões é ter uma vida mais saudável, anote em todas as segundas-feiras o lembrete 'fazer exercícios três vezes nesta semana'.