Por Marcos Hashimoto
Dizem que liderança é um dos traços característicos que forma o perfil empreendedor. Tenho certeza disto, mas não estou certo se o que ouço das pessoas sobre liderança é o conceito que imagino que o empreendedor deve ter. Principalmente no que diz respeito à responsabilidade sobre sua equipe.
Conheçam Silas Bordoque, um grande amigo com quem convivi alguns bons anos durante minha passagem por um banco americano. Como Diretor de Operações de Câmbio para a América Latina, era de se espantar a sua |
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simplicidade e sua postura frente ao sistema em que estava inserido. Sua visão de liderança me ensinou muitas coisas que dariam um livro, mas retrato em poucas palavras alguns destes ensinamentos.
Silas construiu uma brilhante carreira em seus 30 anos de trabalho. Chegou aonde poucos na sua idade (45 anos) e origem social (humilde) conseguiram chegar. Tinha plenas condições de atingir posições mais altas na corporação, era hábil nos relacionamentos, extremamente inteligente e dotado de uma clara visão das coisas. Com um MBA subsidiado integralmente pelo banco, projetos cada vez mais desafiadores e interessantes lhe sendo propostos, excelentes avaliações por parte de clientes, funcionários e supervisores a cada ano, a trajetória de sua carreira estava em plena ascensão. Um dia me surpreendi com a notícia. Silas estava deixando o banco.
Sua explicação:
- Cansei, Marcos. Cansei da hipocrisia das grandes empresas, cansei da falsidade a que você é obrigado a enfrentar a cada novo posto atingido na escalada hierárquica. Cansei dos puxa-sacos, dos jogos de interesse, das manipulações políticas, da falta de espírito ético. Senti que corria o risco de me tornar um tipo de pessoa que não quero ser. Por isso resolvi desistir de tudo.
E desistiu mesmo. Foi para uma empresa de pequeno porte, no interior de São Paulo, atuar como consultor independente, vendendo seus serviços, conhecimento e experiência àqueles que valorizavam e precisavam de um executivo com o seu perfil.
Como era de se esperar, colocaram à sua disposição uma sala com plaquinha na porta, um notebook, secretária, vaga na garagem, cartão de visita com título de diretor e tudo o que um profissional com este currículo esperaria. Silas, surpreendentemente abriu mão de tudo isso e se colocou numa mesa, junto com sua equipe. A sala se converteu em sala de reunião, o notebook foi disponibilizado para aquele que viajasse ou fosse a uma visita a cliente, a secretária foi promovida a membro de equipe. Qualquer um que chegasse à empresa desavisado jamais imaginaria quem era Silas na verdade, poderia ser até confundido com o motorista da empresa.
Poucos compreenderam a razão de tais atitudes, alguns gerentes se incomodaram com tal postura a ponto de se desligarem da empresa meses depois. Outros aprenderam a imitá-lo quando compreenderam os motivos. Em pouco tempo, a hierarquia e o organograma estava de cabeça para baixo. Suas palavras até agora ecoam a sua sapiência:
- Você precisa saber por que as pessoas te respeitam. Se é pelo que você é ou pelo que você está. Se é pela pessoa ou pelo título do cargo. É fácil alguém se dizer líder quando exerce o poder pela força da hierarquia. Você só aprende a exercer a liderança verdadeira quando consegue isolar estas variáveis e exercer influência pelo carisma, pela empatia, pelo exemplo, pelo comprometimento e engajamento pessoal. Você se torna uma pessoa mais nobre quando, ao invés de reclamar da secretária que deixou o telefone tocar por se ausentar da sala, atende você mesmo o telefone, anota o recado e passa para ela depois. Você se torna superior quando estranhos não precisam perguntar quem você é para ouvi-lo e respeitá-lo. O verdadeiro líder conquista confiança pelo que ele demonstra ser através de pequenos atos que contrabalançam a humildade de um funcionário com a altivez de um líder. Aqui implemento coisas que não conseguiria no banco. Aqui coloco em prática minhas crenças sobre o que é equipe de verdade. Aqui, mais forte do que a política de portas abertas será a política sem portas.
Silas continua na empresa, enfrenta muitas dificuldades para impor as coisas sob esta abordagem, mas vibra a cada conquista, como se fosse uma criança com brinquedo novo. Sabe que é difícil quebrar tais paradigmas, sabe que poderia evitar muitas dores de cabeça se estivesse sob o modelo antigo, mas acha que vale a pena. Para ele, é mais um riquíssimo aprendizado no processo de construção de uma empresa voltada para o futuro. Um futuro que exigirá mais flexibilidade, mais dinamismo, mais rapidez, mais criatividade e adaptabilidade por parte das empresas.