Por Márcia Rocha
Você caprichou no seu currículo, colocou tudo o que acha que deveria e vai enviá-lo, digamos, a um headhunter. Ou a um diretor de RH. Ou simplesmente ao departamento de seleção de alguma empresa. Tudo bem, mas, responda uma coisa: você faz idéia do espaço de texto e de tempo que tem para chamar a atenção da pessoa que vai ler o seu currículo? Duas páginas e 40 segundos. Só. Mais nada. Você sabe exatamente o que significa 'chamar |
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a atenção' da pessoa que vai ler o seu currículo? Deixá-la com vontade de ler até o fim - e curiosa para conhecê-lo pessoalmente.
Diante disso, antes de começar a descrever os cargos que teve, as coisas que fez e as empresas por onde passou, coloque-se no lugar de quem vai ler o seu currículo. E, quando estiver com ele pronto, coloque-se de novo no lugar de quem vai lê-lo. Está atraente? Objetivo e claro? Bem escrito, com um texto elegante? Tem informações interessantes? Expõe os resultados que você conseguiu para as empresas por onde passou? Mostra um pouco do seu modo de ser? Está, enfim, à altura do profissional que você é?
Não é novidade para ninguém que a concorrência por uma boa colocação no mercado de trabalho não pára de crescer. E é óbvio que, toda vez que a oferta é grande e a demanda nem tanto, só os feras conseguem passar pelo funil. Em outras palavras, só quem realmente tem o que dizer, e ainda por cima for convincente, é que tem alguma chance hoje em dia. Vamos aos números:
No BankBoston, que tem 4 000 funcionários, chegam cerca de 200 currículos por dia pelo correio. 'Desses, apenas uns 50 vão para o banco de dados', diz Denise Asnis, diretora adjunta de recursos humanos do banco. Pela Internet chegam outros 1 000, 1 200 currículos diariamente. Somente uns 300 são arquivados.
A Microsoft recebe semanalmente 1 100 currículos online. Pelo correio chegam mais 200. Detalhe: a empresa tem apenas 250 funcionários no Brasil. Em seu banco de dados há, atualmente, perto de 60 000 currículos (que uma vez por ano são deletados automaticamente).
No grupo Accor, só no ano passado, chegaram 63 500 currículos, ou seja, o triplo do número de pessoas que trabalham na empresa.
O escritório brasileiro da Korn/Ferry International, uma das maiores empresas de busca de executivos do mundo, recebe todos os dias de 100 a 150 currículo, em média.
A briga, como se vê, está para gente forte. A questão principal aqui é que poucas pessoas sabem fazer um currículo bem feito. Na verdade, segundo os headhunters, só uma minoria sabe. Eles são unânimes em dizer que é espantosa a quantidade de currículos ruins que lhes chega às mãos todos os dias. E não se trata do escalão de baixo, não. Há centenas e centenas de currículos vergonhosos de diretores de empresas. Não condizem com seu nível social, com a experiência que têm e muito menos com o cargo que ocupam. O pior é que os diretores em geral são os profissionais de marketing. Dá para contratar alguém que tenha por ofício vender a empresa, suas marcas e produtos e que, no entanto, não seja capaz de vender nem a si próprio num pedaço de papel? O resultado é que um número enorme de bons profissionais perde ótimas oportunidades de trabalho pelo simples fato de ter um currículo malfeito.
Mas será que é assim tão complicado confeccionar um currículo direito? A resposta é sim. Claro que a tarefa não se compara a resolver um teorema de Pitágoras. Mas exige concentração, reflexão, tempo, poder de síntese, bom texto e, sobretudo, uma compreensão verdadeira do que é importante ressaltar. A VOCÊ s.a. fez um levantamento minucioso de tudo o que deve ter - e também o que não pode conter - um currículo para ser considerado muito bem-feito. Merecer nota 10. Ganhar de lavada dos outros. Ouvimos cerca de 20 profissionais e chegamos a 25 itens práticos e indispensáveis. Leia-os com atenção e nunca se desfaça desta revista, pois, se Deus quiser (e seu currículo ficar bom mesmo), você terá que atualizá-lo muitas vezes na vida.