Pesquisa exclusiva VOCÊ S/A descobre que 56 grandes empresas vão contratar este ano -- e o que elas esperam de seus novos profissionais
Por Anne Dias
Se você pretende mudar de emprego este ano, pode tirar o currículo da gaveta. Pesquisa exclusiva, pelo segundo ano consecutivo, Mapa do Emprego feita por VOCÊ S/A mostra que, em 2006, 56 das 200 maiores empresas do Brasil contratarão 67 432 profissionais entre executivos, pessoal de nível técnico e operacional. Para garimpar essas vagas, VOCÊ S/A fez um levantamento, telefonando e mandando e-mails, durante três meses, para as 200 maiores companhias listadas no anuário Melhores e Maiores de 2005, publicado pela revista Exame, da Editora Abril. O resultado aparece na tabela Cesta de Oportunidades. Estão no topo do ranking a Casas Bahia, a Petrobras e a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR). No ano passado, quando o levantamento foi realizado pela primeira vez, 170 companhias foram ouvidas. Deste total, 48 empresas iriam contratar 39 238 pessoas. Ou seja, a boa notícia é que neste ano a média de vagas oferecidas pelas grandes empresas subiu de 817 para 1 204! 'A pesquisa valida nossa percepção de que as empresas estão procurando gente que queira crescer junto com elas', diz Francisco Ramirez, sócio da Fesa Global Recruiters, consultoria especializada em recrutamento de executivos, com escritório em São Paulo. Francisco acompanha de perto pelo menos seis setores da economia: agronegócio, alimentos, calçados, têxtil, papel e celulose e comércio internacional. Desde o final de 2005, ele não parou de trabalhar um minuto. 'A procura por executivos está muito grande e não é otimismo meu. Os investimentos nas empresas estão crescendo', afirma. Essa percepção se reflete na previsão do governo federal para geração de empregos este ano. O Planalto acredita que em 2006 deverão ser geradas 1,5 milhão de vagas formais (em 2005, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, -- Caged, do Ministério do Trabalho, foram 1,25 milhão de postos abertos).
MUDE SEM PRECONCEITO
A situação do emprego poderia estar melhor se algumas grandes companhias não tivessem enfrentado uma desaceleração em suas atividades. Isso resultou em demissões no ano passado. Pelos números da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), os empregos na indústria paulista, por exemplo, tiveram queda de 2,16% em dezembro, o que significa quase 46 000 demissões. O vilão da história, dizem os analistas, são, principalmente, os juros altos, que fizeram com que muitos empresários dessem prioridade a investimentos financeiros do que a contratações. Outro estudo, realizado pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo, aponta que, das 489 empresas entrevistadas, 32% vão demitir, contra apenas 11% que devem abrir vaga em 2006. No fundo, o mercado está cauteloso. A consultoria Deloitte, de São Paulo, descobriu, por exemplo, que caiu o percentual de organizações que no início do ano dizem que têm previsão de contratar. Em 2006, das 399 empresas de 13 Estados consultados pela Deloitte, 49% afirmaram que pretendiam aumentar o número de vagas até dezembro. No ano passado, 63% disseram o mesmo. E em 2004, 64%. Esses dados revelam, portanto, que as 67 432 vagas desta reportagem são oportunidades imperdíveis para você nadar contra a maré e impulsionar sua carreira com um emprego novo.
Dando uma olhada mais de perto nas companhias que vão contratar, percebe-se ainda que, apesar do desânimo na indústria paulista, outros setores vão absorver gente nova em seus quadros. A lista da VOCÊ S/A é composta por 22 setores, como varejo (com Casas Bahia, Wal-Mart, Carrefour e Ponto Frio), siderurgia (CSN, CBA, CST Arcelor), alimentos (Perdigão e Caramuru) e química/petroquímica (Syngenta, Adubos Trevo e Suzano Petroquímica), só para citar alguns. Por isso, consultores de carreira recomendam a quem quer mudar de emprego não ter preconceito quanto ao segmento de atuação da empresa. 'O profissional deve ficar aberto a todas as oportunidades, não pode ficar preso a um só setor', recomenda Luciana Sarkozy, sócia-diretora da Career Center, empresa de aconselhamento de carreira, em São Paulo.
Luciana explica que o Brasil não vive uma situação que os economistas batizaram de pleno emprego, que é aquela na qual só fica desempregado quem quer. Por isso, é melhor ampliar os horizontes. Isso não significa que você terá de se violentar e procurar emprego em uma área que não tem nada a ver com seu perfil. Mesmo porque as empresas não querem saber de profissionais entristecidos e que entendam pouco do seu negócio. 'É importante que a pessoa se conheça e saiba de que forma ela pode contribuir para a empresa', afirma Patricia Molino, sócia da assessoria em gestão de RH da KPMG.
EMPREGO BRASIL AFORA
A LG, empresa coreana que fabrica aparelhos eletrônicos, a exemplo das demais organizações, também quer atrair os mais talentosos para ampliar seu quadro em 750 vagas. Deste total, 400 serão para a fábrica em Manaus, que precisa de gente de nível técnico e operacional. Outros 300 profissionais também de nível técnico irão para a fábrica de Taubaté, em São Paulo. E as 50 vagas restantes são para pessoal com qualificação, que atuará nas áreas de informática, linha branca (eletrodomésticos como geladeira e máquina de lavar roupa), engenharia, administração e finanças. 'Damos valor à experiência do profissional, mais até do que a sua idade ou alguma habilidade específica', diz Márcio Oliveira, supervisor de RH da LG.
Quem quiser entrar para o time da marca coreana terá muito trabalho pela frente. A LG, que fechou 2005 com faturamento de 1,3 bilhão de dólares no país, pretende terminar 2006 com vendas na casa de 1,8 bilhão de dólares. É ano de Copa do Mundo e a marca quer dominar o mercado com seus televisores. Quem já tirou proveito disso foi o advogado paulistano Luiz Gonzaga de Siqueira Filho. Ele foi contratado há apenas três meses como gerente-geral jurídico da LG. Antes de virar o manda-chuva da área jurídica, Luiz atuou em diversos mercados. De siderúrgica a empresa de laticínio, de telefonia a um escritório de advocacia em São Paulo.
Quem também não tem preconceito algum para contratar profissionais de diferentes segmentos são as organizações que atuam no varejo. Como estão criando muitas oportunidades, essas empresas estão de portas abertas para os melhores. Só o Wal-Mart vai abrir 15 lojas, num investimento de 600 milhões de reais, e deve contratar 5 000 pessoas. O Carrefour também vai abrir 15 lojas e gastará 700 milhões de reais, promovendo 2 100 contratações. A Companhia Brasileira de Distribuição, dona do Pão de Açúcar, espera chamar 30 000 profissionais nos próximos quatro anos (leia mais sobre o setor de varejo na reportagem Prateleira de Emprego). Aliás, o levantamento deste ano traz uma surpresa. As empresas de energia aparecem com boas vagas após anos de baixa (leia mais na reportagem Alta Voltagem).
Além de olhar para empresas de outras áreas, pense também em mudar de endereço. O headhunter Francisco Ramirez, da Fesa, observou nos últimos meses que muitas corporações, principalmente as ligadas ao agronegócio, estão abrindo fábricas em Goiás, no Triângulo Mineiro e na região Sul. Fora isso, um estudo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) mostra que o emprego industrial está indo para o interior. De 2000 a 2004, de cada quatro vagas, três estavam fora dos grandes centros.
LÍDERES EM ALTA
Os executivos que as empresas procuram hoje são diferentes dos de 17 anos atrás. É isso o que mostra uma pesquisa feita com 4 500 profissionais brasileiros pela consultoria DBM (leia mais na reportagem Perfil Tudo de Bom). Quanto mais o executivo for comunicativo, flexível e equilibrado, melhor. As organizações querem pessoas que saibam liderar, ainda que suas equipes sejam reduzidas a três profissionais. 'O bom líder é o que cresce e ajuda os outros a crescer com ele', diz Patrícia Epperlein, sócia-diretora da Mariaca, consultoria de recrutamento de executivos. O sócio-líder da área de gestão de capital humano da Deloitte, Vicente Picarelli Filho, acrescenta mais duas qualidades: ter conhecimento técnico e muito, mas muito conhecimento de gestão. Isso facilita negociações entre a empresa e um fornecedor, por exemplo.
Como se candidatar? Um dos caminhos mais eficientes é a internet. Boa parte das empresas tem em seus sites um espaço para você preencher um cadastro ou enviar um currículo eletrônico. Isso só não vale para as empresas públicas, como Petrobras e Infraero, que promovem concursos para formar suas equipes. Um exemplo de empresa que usa o internet para selecionar seus profissionais é a Kraft Foods, com sede em Curitiba. A companhia deve chamar neste ano 1 300 pessoas, e vai fazer as primeiras seleções dos candidatos via web, pelo site www.elancers.com.br/kraft.
Acionar sua rede de relacionamentos é outra alternativa eficiente. Você também pode conversar com as agências de recrutamento, mas só procure as famosas (e sérias). E não pague pelo serviço. Se a consultoria quiser cobrar 1 centavo, desista dela e aconselhe os colegas a fazer o mesmo. Agora, se a agência de recolocação for séria, o empurrãozinho dos especialistas abre portas. Foi o que ocorreu com o administrador de empresas Josias Cordeiro da Silva, de 34 anos. Ele conseguiu uma vaga como gerente de planejamento tributário da Perdigão, que está contratando 3 000 pessoas, depois de um longo processo de seleção (leia mais no quadro Oferta Irrecusável). O novo gerente está feliz da vida e quer virar diretor. Por isso seu currículo voltou para a gaveta. Pelo menos até que apareça uma outra boa oportunidade para mudar de emprego.
DE CARONA NO CRESCIMENTO
O engenheiro de produção Michel Machado, do Rio de Janeiro, trocou, no final do ano passado, a indústria farmacêutica Roche pela fabricante de cigarros Souza Cruz. Aos 25 anos, virou gerente de logística. 'Acabei sendo promovido, porque antes eu era analista de logística', diz. A ida de Michel para a Souza Cruz faz parte das contratações da companhia em 2006. Para crescer, a empresa quer gente competente, não importa a idade. A Souza Cruz está contratando 730 pessoas este ano. A companhia decidiu transferir seu centro de pesquisas e desenvolvimento e o departamento gráfico do Rio de Janeiro para Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul. Lá, também estarão o centro de armazenamento de informação e o call center.
A Souza Cruz tem hoje cerca de 6 000 funcionários. Há dois anos, esse número era de aproximadamente 4 200. Michel está em uma área crucial da companhia. Empresas de tabaco são proibidas de fazer propaganda e, portanto, ter uma distribuição eficiente é o pulo-do-gato da operação. Michel é um dos responsáveis por tocar projetos que otimizem os processos de entrega. Um plano malfeito por ele e muitos dos 300 000 pontos-de-venda param de receber cigarros da Souza Cruz. 'Esta é uma empresa muito dinâmica. Quem quer fazer carreira aqui não vai ficar parado', afirma Michel.
NÃO PERCA SEU TEMPO
Saiba quais são as 31 empresas que não vão contratar neste ano
Na pesquisa realizada por VOCÊ S/A com 200 empresas, 144 ficaram de fora da lista das que vão gerar empregos em 2006. Deste universo, 31 disseram que não vão contratar em 2006.
Veja quais são: Petroquímica União, Eaton, Centrais Elétricas Mato-grossenses (Cemat), Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp), Celpe, Braskem, Bosch, Alstom, Honda, Sabesp, Aliança, Basf, Dow e Dow Nordeste, Varig e Varig Log, Refap, AES Sul, Acesita, Caterpillar, Rio Grande Energia (RGE), Avipal, Metal Leve, Albrás, Elma Chips/Quaker, Alunorte, Kaiser, Cedae, Correios, Ultragaz, AES Eletropaulo.
Leia na matéria quais os departamentos que mais vão contratar em 2006
Cesta de oportunidades