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A lâmpada, o Viagra, a IBM e os erros
por Sérgio Compagnoli
Publicada em 24/5/2004

Já foi dito que aprendemos muito nas derrotas e pouco nas vitórias. É verdade. A derrota – vista sempre e somente pelo ângulo construtivo - tem o dom de nos fazer pensar sobre como fazer melhor para superar obstáculos, ou vencer, se você assim preferir. Por analogia, podemos relacionar derrota com erros, considerando que ela é uma somatória deles.

Mas contra isso conspira todo um processo cultural e educacional que enfatiza o certo como expressão do bom e o erro como expressão do ruim. Poucos vêem que o certo e o errado são conseqüências de um mesmo processo.  

 

Se aceitarmos o certo como “o lado bom” das coisas, deixaremos de correr riscos e isso tolherá nossa vontade e nosso gênio criador. Imagine um cientista. Ele parte de algumas premissas consagradas e passa a especular para criar algo novo. Nesse processo de criação, ele intuirá coisas e as testará.

    

Até que obtenha resultados positivos naquilo que persegue, encontrará muitas respostas indesejadas ou “erradas”. A solução “certa” será aquele que atinge seus objetivos, mas antes disso ele passou por diversas soluções “erradas” e que foram, por assim dizer, impulsionadoras da solução desejada. Se ele cedesse ao erro, nada criaria e por certo, não seria um cientista.

 

Se perguntado sobre seus “erros”, talvez o nosso cientista responda como Thomas Alva Edison. Perguntaram a Edison algo parecido com: “É verdade que em mil tentativas o senhor errou 999 vezes antes de fazer a lâmpada funcionar?”, e ele teria respondido algo como: “Não; eu descobri 999 situações em que uma lâmpada não funcionará”. Convenhamos, é muito diferente de errar.

 

Muitos princípios foram descobertos em “erros”; um exemplo relativamente recente da indústria farmacêutica é o Viagra. Foi concebido como um medicamento para tratar males cardíacos, e nisso foi uma solução fracassada – os resultados com humanos foram diferentes daqueles obtidos com cobaias.

 

Mas um efeito colateral não previsto transformou-o numa aplicação revolucionária no tratamento da impotência masculina, que hoje é elegantemente chamada de disfunção erétil. Ou seja, o Viagra foi produto de um “erro”. Dado o sucesso desse “erro”, chego a imaginar que o CEO da Pfizer pergunta sempre ao seu pessoal de Pesquisa e Desenvolvimento: “Como andam os nossos erros? Precisamos encontrar outra solução inovadora para assegurar nossa liderança de mercado”.

 

Vale lembrar: a Pfizer fatura bilhões de dólares com esse “erro”. Sorte? Não! Ela simplesmente não fechou os olhos para esse “erro”; ao contrário, descobriu que ele levava a outras soluções, antes não imaginadas. A população masculina agradece muito.

 

Tomado esse simples exemplo, pode-se afirmar que o erro é algo que não existe. O erro, quando muito, é algo que não se aplica às condições estudadas e objetivadas. Mas pode ser o germe de novas idéias e soluções, da transformação enfim.

 

Leve os conceitos esboçados ao ambiente das empresas. Você verá gerentes, supervisores, operadores e outros que não tomam decisões porque têm medo de errar, medo de experimentar o que nunca foi tentado, medo de idéias com as quais não estão familiarizados e, por fim, medo de se expor. Com isso, não perceberão o novo que pode estar debaixo de seus narizes, sufocarão idéias brilhantes, etc. Pior ainda quando a organização trata de punir sempre o erro em vez de aprender com eles. Torna-se uma organização previsível, e isso é mortal no mundo nos negócios, ainda mais num cenário de competição extrema, como este em que vivemos.

 

Visões proativas sobre o erro são muitas e emblemáticas. Thomas J. Watson, fundador da IBM dizia: “O caminho para o sucesso é dobrar a sua taxa de erros”. O presidente de outra empresa de computadores dizia algo similar: “Nós somos inovadores. Estamos fazendo coisas que nunca ninguém fez. Portanto, vamos errar muito. Meu conselho para vocês: errem, mas errem depressa”. Há uma máxima em gestão que vale citar: “Quem não faz por medo de errar, já errou!”.

 

Evidentemente não devemos radicalizar em nada na vida. E não é diferente quanto tratamos de erros. Assim, cultuar o erro seria, digamos, um erro. Ao contrário, o que se propõe é que o erro seja visto como algo instrutivo e renovador, tanto em termos pessoais quanto organizacionais.

 

O erro - visto como algo a ser banido - muda o foco de seu efeito educativo e gerador de idéias novas. Torna-o uma espécie de “pecado mortal” que deve ser eliminado a todo custo. Só que ao eliminar a possibilidade do erro, estaremos eliminando também a possibilidade do acerto; afinal, eles são integrantes do mesmo processo e não há como eliminar somente uma das conseqüências possíveis; mesmo porque estamos falando de nossa capacidade inventiva.

 

É certo que podemos aprimorar nossos acertos com o estudo sistemático e planejado de nossos erros - os quais prefiro chamar de idéias preliminares em busca de soluções estáveis - e com isso transformarmos algo dito errado como parte integrante do certo, ou pelo menos como indicador de que estamos seguindo uma trilha que nos conduz a outros destinos.

 

Os modernos sistemas de gestão da qualidade já contemplam essa visão. A norma ISO-9000, desde seus primórdios, pede registro e documentação de situações não-conformes; ou seja, de erros que interferem na qualidade final do produto ou serviço. Ela pede que as organizações produzam um histórico do que deu errado, analisem os porquês e que produzam meios planejados e controlados que evitem a reincidência. Com isso, forma-se um referencial de conhecimento que permite planejar e desenvolver melhor e de maneira mais eficaz. Essa ação permite que processos sejam revistos e aprimorados, produzindo uma organização mais viva e em constante evolução. Claro que a norma trata erros como possibilidades de melhoria organizacional, e não como algo nefasto.

 

Então, devemos deixar de lado o temor de errar e transformar essa possibilidade em elemento integrante para chegar-se ao sucesso. Mas não custa nada lembrar o sábio dito popular: “Errar é humano, mas persistir no erro...”.

 

Finalizando, não erre a esmo: erre com objetivos, aprenda a errar.

 


Sérgio Compagnoli é consultor de recursos humanos e de sistemas de gestão da qualidade.
E-mail:
sercom1956@yahoo.com.br

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